sexta-feira, 25 de setembro de 2009

O homem guarda os cheiros em gavetas
E funciona assim, abre a gaveta e cheira
Depois fecha a gaveta e procura novos cheiros

O canguru guarda cheiros numa bolsa,
Pois é a única bolsa que possui pelo que não tem outros locais onde guardar cheiros

O utensílio alguidar guarda cheiros na borda
E se o homem soubesse
Só comprava bordas de alguidar

E tu? Tu vens e vais mas deixas o teu cheiro
O cheiro é forte quando vens e é teu quando vais
Eu guardo-o fora da gaveta, para me lembrar
Mas ele teima a ir também
Então tens que voltar

Já te vais embora?
Então deixa aqui o teu cheiro

domingo, 6 de setembro de 2009

A Bolha Disforme

A bolha disforme era uma bolha disforme
E não era conhecida

A bolha disforme era uma bolha disforme
Porque não era conhecida

Passou ele perto e passou-lhe os olhos
Pela bolha, não tão disforme
Não tão desconhecida

A bolha é conforme, e já não tão disforme,
a bolha é conhecida!

Ele a conhece e ronda a bolha conforme
ela deixava ser conhecida

Era um borrão de fractais desenfreados
Eram histórias de bonecas
Eram sustos de pernetas
Eram coisas reais
Eram cenas demais
Eram cavalgadas com animais cansados

Então a bolha conforme
ia sendo conhecida

Lembra-lhe a hora da abalada
Lembra-lhe a hora da despedida
Num lapso a bolha volta a disforme
Lembra-se de ser incompreendida

Num desespero próprio de disformidades
A bolha tem um brilho de lucidez

Um passe de cartola entre pombas
Lembra-se de contactos que ela fez

Retomaram-se então contactos
Mas quão perto é o longe
Que a bolha se tornara disforme?

Refizeram-se então contactos
Mas quão perto é o longe
Longe que tornara a bolha disforme?

Pois é

Agora a bolha é outra bolha
Cheia de fractais moderados
Cheia de contos de princesas
E sustos de condensas
Cheia de coisas surreais
E de outras, menos reais
Cheia de cavalos embriagados


E essa é a sua bolha, a sua bolha disforme
Até voltar a ser a sua bolha, a sua bolha disforme